quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Os desacertos de Atenas

Desde que Atenas fora derrotada na Guerra do Peloponeso, encerrada em 427 a.C., a cidade nunca mais se acertou. Em todos os conflitos que doravante tomou partido, ela, fatidicamente, inclinou-se para o lado derrotado. Assim foi quando Demóstenes liderou-a contra a cada vez mais forte presença macedônica, sendo derrotada na batalha de Queronéia em 338 a.C., e assim também se deu quando ela tentou livrar-se do governo dos diádocos (os sucessores de Alexandre, o Grande) quando este morreu na Ásia em 323 a.C. De novo sua desgraça política confirmou-se quando ela manteve o apoio aos reis macedônicos quando os romanos se acercaram da Grécia, pondo-a sob seu domínio. Nesta ocasião, para surpresa dos atenienses, os generais vencedores, Tito Flamínio, Mânio Acílio e Emílio Paulo, romanos admiradores da cultura grega, evitaram as pilhagens e saques. Não só isso. Fizeram até polpudas doações aos santuários de Delfos, Epidauro e Olímpia. Sorte que terminou com a chegada do general Sila aos muros da cidade de Atenas no ano de 86 a.C.

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Acrópole de Atenas (reconstrução)


A guerra civil romana e a desgraça de Atenas


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Mário
Com a eclosão da guerra civil em Roma, no ano de 88 a.C., entre os dois principais chefes partidários, Caio Mário (dos populares) e Lúcio Cornélio Sila (da aristocracia), Atenas, aproveitando-se da confusão reinante, rebelou-se. Os cidadãos locais identificados com o domínio romano ou foram mortos ou desterrados. O tirano Aristón assumiu então o poder.

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Sila
Não é preciso dizer que Atenas manteve assim sua vocação para as escolhas desastradas. Sila, aproveitando-se de uma folga da guerra civil, decidiu pôr Atenas sob sítio. Para tanto, para dar um castigo exemplar aos rebeldes, trouxe toda a imensa maquinaria romana de assalto, atrelando-a a dez mil pares de mulas. Nada mais entrava ou saía das portas da grande cidade. O romano determinou que os matassem de fome se necessário, pois eles, mais tarde ou mais cedo, teriam que render-se.

O Assalto final


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Mapa dos achados do naufrágio de Mahdia feito pelo computador

Consta que foi ouvindo uma conversa de alguns anciãos da cidade, que criticavam o tirano Aristón em manter desguarnecida a parte do Heptacalco, o que decretou o fim da resistência atenienses. Atentos, os espiões de Sila dentro da cidade indicaram-lhe o caminho da pedras. Havia sim um lado das muralhas sem maiores proteções. Era a parte que ligava a Porta Pireaica (que unia a cidade ao porto) à Porta Sagrada. Sila, que já havia desbastado os bosques sagrados dos arredores de Atenas, derrubando as árvores do jardim de Academus e do Liceu (onde ficavam as honoráveis escolas fundadas por Platão e Aristóteles, mais de três séculos antes), determinado a tudo, ampliou ainda mais a pilhagem ordenando que retirassem as jóias mais valiosas dos santuários gregos. A pobre Grécia assistiu impotente o roubo das suas madeiras e do seu ouro para que, com elas, o romano invasor forjasse as algemas que reduziram os atenienses. O ataque final deu-se à noite, à meia-noite de um dia chuvoso, na data de 1º de março do ano de 83 a.C. (Sila em suas Memórias foi preciso quanto a isso). As muralhas foram transpostas com rapidez e dali, com fúria inaudita, em marcha acelerada pelas ruelas, a soldadesca romana caiu sobre a população apavorada. A matança foi terrível, pois, como lembrou Plutarco, de Sila não podia se esperar "nada de humano ou de clemência". As ruas de Atenas viraram um matadouro. Com a antiga cidade prostrada, com o orgulho no chão, Sila deu seguimento ao saque, esvaziando-lhe os templos das suas oferendas, não poupando nem as esculturas, vasos, ou as pilastras que os sustentavam. Provavelmente foi um dos seus barcos carregando uma parte desse espólio que foi parar na costa da Tunísia. Preciosa carga que lá ficou no fundo do Mediterrâneo durante 1990 anos, até que os mergulhadores gregos a reencontraram para voltar a espantar o mundo.

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